(...) Oito e meia da
manhã. O carro do meu pai parou em frente ao portão do Liceu e nós saímos: eu,
a Isabel Pimenta e a Siby, a nossa saudosa Siby, companheira de tantos anos!
Corremos para a vendedora de pevides, que se
encontrava, invariavelmente, ao lado do portão da Quinta das Lágrimas. Enchemos
os bolsos das batas azuis claras e esperámos pelos colegas que iam chegando.
O dia nascera
em tons de abril, doirado, ameno. A Olga Soares e a da Ângela Tavares, duas das
amigas inseparáveis da nossa turma do 5º ano, acabavam de chegar. A bomba
rebentou e nós ficámos incrédulas perante a notícia fresquinha «houve um golpe
de estado esta manhã», disseram elas, em primeira mão! Espalhou-se a novidade
e, meia hora mais tarde, o Liceu D. Duarte iniciava uma nova era. As batas
voaram com a rapidez de um raio, ao som de um grito conjunto que ecoou das
profundezas das miúdas que as trajavam contra vontade…
Os professores
choravam e contavam-nos histórias que desconhecíamos até ao momento. Recordo-me
perfeitamente de ter ficado chocadíssima ao ouvir (creio que da boca da
professora de História) que muitas vezes estávamos sob vigilância durante as
aulas «eles escutavam à porta da sala e eu sabia…», dizia ela lavada em
lágrimas…(...)
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