domingo, 20 de março de 2011

Filho da guerra

A todos os filhos da guerra, vítimas da hipocrisia dos homens


Deambulas na rua escura e densa

entre sombras mascaradas

e perfis imaginários.

Desabafas o teu ódio

apedrejando o silêncio

de estranhos odores,

esvais-te em sonhos perdidos

e amaldiçoas a angústia da tua condição

de farrapo abandonado nas ruínas do tempo.

Cerca-te o orgulho errante

dos predadores do presente

que te amputam a alma cansada

na penumbra da calçada

imunda e gélida.

Choras as tuas origens

sepultadas na imensidão da guerra!

A noite desce soturna e muda

e o eco das balas longínquas já nada te diz.

Vagueias entorpecido na inquietação.

E na pálida imensidão de sentidos

pisas excrementos com sapatos de ilusão.


Maria Santos