terça-feira, 15 de julho de 2014

A INEVITABILIDADE DO CONFRONTO SOCIALISTA

Quem pertence a uma geração que teve o privilégio de assistir ao vivo e a cores, em pleno coração da adolescência, ao despontar daquela primavera deslumbrante de tons rubros filhos da madrugada de abril e foi cúmplice da euforia, dos encontros e reencontros, dos abraços, dos rostos incrédulos ávidos de liberdade, dos sorrisos rasgados completos de esperança, experimenta, volvidos quarenta anos, um sentimento de inevitável repulsa pela forma como os sucessivos governos contribuíram para a mais humilhante degradação deste país.
Durante todos estes anos, assistimos a uma espécie de jogo de alternância partidária, cujas políticas apontavam, desde cedo, para a construção de uma sociedade europeísta de tipo neoliberal. Na década de 80, tornava-se inadiável um compromisso estreito com a Europa num processo de reestruturação económica e social. Os anos 90 são marcados por uma série de ações com o principal enfoque na globalização em nome de uma política de desenvolvimento da economia local e do bem-estar social. O poder de compra aumenta a olhos vistos, mas o reverso da medalha não tarda. A segunda década do ano 2000 inicia uma demolidora queda da qualidade de vida dos portugueses. Não obstante a existência de mais mão-de-obra qualificada através da imposição da escolaridade obrigatória até aos dezoito anos, o desemprego dos mais habilitados atinge valores perigosamente altos, empurrando-os para um quadro de emigração forçada, refugiados de um país moribundo chefiado pela mais severa incapacidade política e cultural alguma vez presenciada, mas que, paradoxalmente, tem como oposição político-partidária uma esquerda não consensual, ridiculamente dividida por valores pseudoculturais e ortodoxos. O BE desmorona-se a cada segundo, o PCP segue a política do “orgulhosamente sós”, mais parecendo preferir um governo de direita a um entendimento com o PS, os outros…esperamos para ver.
Vislumbra-se, assim, a inevitável continuação da alternância, desta feita com a vitória de um partido perigosamente ferido no seu interior, porque frágil do ponto de vista ideológico e sôfrego de protagonismo, como revelam os resultados das eleições europeias. O PS parece ter, finalmente, acordado do marasmo que o caracterizou estes últimos anos, onde permaneceu num estado de inércia galopante que atingiu o seu esplendor com os discursos imaturos e planos de ação social politicamente inexequíveis do seu secretário-geral.
Costa avança, apoiado pela maioria dos fundadores do partido. Mário Soares garante que vai lutar ao lado dele. Seguro resiste. É uma história que vem de longe. Já na década de 80 Seguro integrava o grupo de oposição a Soares. É a fação rosa contra a fação vermelha…
Quanto a mim, Costa tem sobre Seguro todas as vantagens desde a maturidade política que falta ao adversário à imagem pública. Os dois contam com um longo percurso no partido, nascidos na JS, mas a rivalidade também faz parte da democracia partidária e eles são disso um bom exemplo.

Uma coisa é certa. Ganhe quem ganhar, esta luta é essencial para repor a confiança no Partido Socialista. É uma guerra inevitável porque imprescindível para diluir a ideia da profunda crise que paira sobre as próximas legislativas.