quinta-feira, 12 de abril de 2012

A serenidade do bom português


Maria de Lurdes Rodrigues e Isabel Alçada são dois exemplos elucidativos da falta de desvelo dos nossos governantes. Para as duas ministras da educação, a Parque Escolar foi uma mais-valia para os portugueses.
Está claro que o programa de modernização das escolas excedeu, em larga escala, a estimativa apresentada em 2007. A este propósito, Maria de Lurdes Rodrigues afirmou que “nem sempre a transparência”, avalizada pela realização de concursos públicos “é convergente com o interesse público.
Questionada sobre os elevados custos deste projeto, Isabel Alçada declarou que "O custo da construção para as 205 escolas foi, em média, 815 euros por metro quadrado e isto compara bem com o custo de outros países; em média, 1.800 euros por metro quadrado em França e 2.500 euros em Inglaterra, em programas idênticos". Tudo isto, para clarificar que se trata de um investimento barato.
O que será barato para esta gente? Terão as senhoras qualquer noção da realidade do país que ajudaram a desgovernar?
Só quem não conhece, por dentro, as manobras acrobáticas que pautaram as políticas educativas levadas a cabo pelo, então, (des)governo PS, pode dar o benefício da dúvida perante estas e outras afirmações, mas quem está por dentro do assunto desespera perante tanta leviandade.
É claro que a necessidade de reabilitação de algumas escolas era premente. Contudo, escolas há que passaram à margem da bendita reabilitação e em cujas salas de aula a água continua a cair pelas paredes e tecto, não existe qualquer tipo de aquecimento e os alunos se veem obrigados a escrever com luvas. Esta é a realidade de uma escola dos 2º e 3º ciclos e ensino secundário. Outras haverá na mesma situação.
Não obstante, os luxos proliferam ostensivamente nas obras em curso. Dizem as más-línguas que o sistema energético de climatização faz subir de forma exponencial a fatura da eletricidade. Não há dinheiro que sustente tamanho disparate!
E nós pasmamos, impávidos na nossa serenidade de bonecos articulados!
Uma coisa é certa: um país cujos ministros apresentam tão elevado grau de iliteracia económica e financeira e um grau tão baixo de responsabilidade política não é um país, é um caos. 

O Eça ainda por aí


“Ordinariamente todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o estadista. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?”

                      Eça de Queiroz, 1867 in "O distrito de Évora"