segunda-feira, 16 de maio de 2011

Escolaridade não é educação

Hoje, ao fim da manhã, estacionei o carro na Cruz de Celas e fui a pé aos HUC. A meio do caminho, cruzei-me com vários jovens (homens e mulheres), que caminhavam em pequenos grupos, com livros debaixo do braço. Vinham, exactamente, dos HUC. Alunos, estagiários…? Não sei, nem isso seria caso para eu ter dado por eles, não fossem duas ou três situações que me fizeram pensar.

O pavimento do passeio da vedação da Escola Martim de Freitas está deteriorado, o que não é de espantar nesta nossa cidade. Ao deparar-me com um grupo de três raparigas que vinham na minha direcção, encostei-me ao gradeamento para que pudessem passar, não fossem elas cair no buraco mesmo no centro do passeio. Mas as damas, que vinham em linha recta, ocupando todo o espaço, continuaram a falar e a rir, avançando a passos largos. A conclusão não se fez esperar: levei um empurrão de tal forma que ainda me dói o ombro. As futuras profissionais, seja do que for, continuaram o seu caminho, sem pedirem desculpa, nem se dignaram olhar para mim.

Na rotunda, os palavrões foram uma constante, provindos das bocas delicadas dos grupos que se seguiram.

Para finalizar, já dentro do espaço dos HUC, um rapazinho passeando os seus livros e cadernos, a uns passos da entrada principal, no sentido descendente, resolveu desatar a cuspir – para não utilizar outra palavra mais adequada, mas também mais enjoativa – em direcção à relva, em andamento, como convém nestas gentes pouco dadas ao uso de lenços. Vinham duas miúdas mais atrás que desataram a rir, olhando para mim, mais propriamente da cara que eu terei feito no momento…

E aqui está a minha aprendizagem de hoje. Como profissional da Educação neste país, andarei a falhar em alguma coisa?

Estas “figuras”, com quem me cruzei hoje, são fruto de aprendizagens. Pelo menos deveriam saber-estar, dada a “elevada escolaridade” que possuem. Mas o que aprenderam estes jovens que lhes sirva para a vida?

O que vai ser deste país daqui a uns anos?

Instante Eterno

Afaga-me o toque acetinado

do canto do rouxinol,

longínquo, quase ausente,

no rosto marejado e quente

daquela tarde tórrida de Verão.

Fecho os olhos num instante eterno

e vislumbro a porta do tempo

escancarada,

solícita,

expectante.

Deixo-me deslizar

pelas fendas das arestas

das janelas do passado longínquo

e vivo momentos antigos

sepultados na memória do tempo.

Maria Santos